Roupa feita de chá verde e micróbios?
Não é prático, não é rápido e nem sequer podemos usar esta roupa quando está a chover. Para já, pelo menos! Mas isso pouco importa quando somos confrontados com o altruísmo de Suzanne Lee, a estilista de moda vegan que se dedica a fabricar tecidos biológicos. É directora da Modern Meadow e fundadora da Biofabricate, duas organizações que investem na descoberta de fórmulas naturais para o fabrico de tecido, sem prejuízo para os animais e ambiente. E tudo começou quando a criadora conheceu um biólogo que lhe mostrou ser possível fabricar tecido em casa através da receita de Kombucha, com recurso a ingredientes como o açúcar, chá verde, alguns micróbios, tempo e muita dedicação! "Trata-se de uma mistura simbiótica de bactérias, fermentos e outros micro-organismos que fiam a celulose num processo de fermentação. Com o tempo, esses fios formam camadas e produzem um tapete na superfície que, após ser lavado, resulta num tecido”, explica Suzanne. E podemos fazer isso em casa? A resposta é afirmativa. E até explica como se faz: "começamos por fazer uma panela de chá, com cerca de 30 litros de cada vez. Enquanto ainda está quente, adicionamos 1 a 2 quilos de açúcar, mexendo até estar completamente dissolvido. Transportamos o líquido para o recipiente onde irá decorrer o processo de fermentação. Quando a temperatura do mesmo descer para os 30 graus, é altura de adicionar as células vivas e algum ácido acético.
É fundamental que a temperatura do líquido seja mantida durante a fermentação. Ao fim de três dias começam a aparecer bolhas à superfície. E isso é o primeiro (bom!) sinal de que bactérias estão a alimentar-se dos nutrientes do açúcar e a fiar pequenas fibras de celulose, que se colam umas às outras, formando uma folha à superfície. Duas a três semanas depois, a espessura da folha é de cerca de 2,5 cm. Quando essa folha estiver pronta, retira-se da banheira e lava-se com água e sabão. Por ser 90% feita de água, é necessário que a deixemos secar até que uma boa parte da água evapore. O ideal é deixá-la secar no exterior da casa. À medida que a secagem vai acontecendo, a folha vai ficando mais comprimida até resultar numa espécie de tecido transparente e fino, muito semelhante ao couro vegetal flexível. Podemos finalmente coser este tecido, como cosemos qualquer outro. No entanto, pela forma como foi feito, o tecido apresenta a cor da pele humana. A estilista diz que podemos alterar isso sem o recurso a tintas ou outros químicos. O processo de oxidação do ferro e a coloração através de frutas e vegetais são dois bons exemplos de processos naturais que coloram as peças de roupa, sapatos e acessórios criados pela marca.
Suzanne lamenta o facto de ainda não ter conseguido com que as roupas se tornem impermeáveis. E admite: “se sairmos com elas à rua e começar a chover muito, a roupa vai absorver toda a água, ficar extremamente pesada e, como tal, é possível que as costuras se desfaçam”. Nem tudo são rosas, portanto. Mas a estilista não desiste e desafiou grandes marcas de roupa a investir neste processo, para que um dia este tipo de vestuário possa estar acessível a todos.
O tecido pode ser costurado à máquina, como qualquer outro
Dois modelos da Biocouture. O blusão da direita não recorreu ao uso de químicos para obter aquela cor. Foi apenas necessária a coloração natural com indigo.
Uma etapa do processo de fermentação
Um colar feito pela estilista com tecido biológico