Quando te estás a borrifar para a Passagem do Ano
Como disse um dia Carlos Drummond de Andrade: "Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão. Doze meses dão para qualquer ser humano cansar-se e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente". A meu ver, esta euforia que cerca a noite da passagem de um ano para o outro não podia ter sido mais sabiamente descrita. Sou suspeita, é verdade! Porque desde que me lembro de ser gente não sinto qualquer tipo de ligação afectiva ao dia 31 de Dezembro. Muito menos deposito nesta data a esperança de que todas as rotinas prejudiciais que adoptei no ano que agora finda serão eliminadas da minha vida como que por magia. Não tenho aquele impulso generalizado de fazer o "tal" balanço do ano que está prestes a despedir-se de nós. Não tenho vontade de fazer novos planos a correr só porque vai entrar um ano novinho em folha na minha vida. Para mim, e esmiuçando com alguma frieza (assumo) esta data o que fica da passagem do ano é isso mesmo...o avançar do tempo! Sou feliz por natureza e prefiro que esses novos planos e promessas de emendas futuras se renovem a cada dia, a cada mês.
Tenho pouca paciência para qualquer festa que implique a quase obrigatoriedade de exibirmos alegria com o máximo de exuberância possível. Vou passar essa noite em casa, entre família e amigos. Mas se a passasse sozinha, muito provavelmente a única reflexão que faria teria a ver com decisões relativas às escolhas Netflix para o serão. Não existe qualquer sentimento negativo implícito nas minhas palavras. Pelo contrário! Quem me conhece de cor sabe que estou na maioria das vezes de bem com a vida. E respeito quem se deixe influenciar pela alegria da festa, pelos preparativos que a antecedem e pela magia associada à contagem decrescente para a entrada do novo ano. Só gostava de perceber porque é que a mudança de mês ou de semana não é tratada com o mesmo entusiasmo. Eu, por exemplo, adoro a passagem de Agosto para Setembro. É nesta altura que usufruo em pleno da praia que tenho à porta de casa, onde consigo finalmente retirar o máximo proveito de cada pôr-do-sol que, esse sim, inspira-me para definir novos sonhos, novas metas. Adoro a chegada das quintas-feiras, onde começo a traçar o plano para o fim-de-semana. Quase sempre composto por coisas simples, mas que me enchem a alma.
Posto isto, aproveito a deixa para desejar-vos um excelente 2018 e obrigada por nos acompanharem diariamente aqui no blog.