Tive o primeiro contacto com a música de Pedro Junot quando, a propósito de um passatempo que promovi aqui no blog, a empresa Tuk Away Lisbon sugeriu-me que ouvisse o tema "O Fadinho do Tuk Tuk". Achei imensa graça à letra, à música e fiquei a partir daí mais atenta ao trabalho deste fadista. No dia 25 de Maio fui convidada para assistir à apresentação do seu álbum de estreia, "Pedro Maior", no Auditório Fernando Lopes-Graça, no Fórum Romeu Correia, em Almada. Deixo-vos com a entrevista a Pedro Junot para que possam conhecer um pouco mais deste fadista da nova geração...
Pedro, conte-nos como nasceu a sua paixão pelo fado?
O meu interesse por Fado começa durante o período da minha adolescência. Lembro-me de no vôo de regresso da viagem à Disneyland de Paris ver nas capas dos principais jornais distribuídos a bordo: “Chorai Guitarras, Morreu a Voz do Fado”, Amália Rodrigues. Esta notícia teve em mim grande impacto, o que me levou a procurar informação sobre a mulher, a artista e a fadista que é Amália Rodrigues. Foi aí que nasceu a minha paixão pelo Fado. Entretanto,Filipe La Feria estreia o Musical Amália, o qual gostei muito e assisti inúmeras vezes. Com o musical Amália, comecei a ouvir as vozes da nova geração do fado dessa altura, e que, actualmente, são grandes vozes nacionais. Amália Rodrigues e as vozes da “Nova Geração de Fado” foram responsáveis pelo despertar do meu desejo de cantar. Comecei a cantar Fado e a ter formação musical nas colectividades e, pouco a pouco, fui encarando o Fado como algo sério na minha vida.
Sei que é também psicólogo. Porquê Psicologia?
Desde sempre que me imaginei ligado profissionalmente às áreas sociais e da saúde. Na história da família tenho o exemplo de dois extraordinários e acarinhados médicos e, mais tarde, por paixão, o gosto pelas áreas sociais aliadas à saúde (mental) falou mais alto. Sou Psicólogo Clinico, reconheço o meu trabalho como sendo uma possibilidade que as pessoas têm de promoverem o seu autoconhecimento e o seu bem-estar.
Se fosse viável, gostava de dedicar-se exclusivamente ao fado?
O Fado e a Psicologia são duas paixões, distintas. Como no amor temos que dar sempre o máximo de nós, é o que faço no Fado e na Psicologia, conciliando as duas da melhor forma possível.
Em Portugal quais são os principais obstáculos que um fadista encontra no percurso de projecção de carreira?
Infelizmente, num país como o nosso, é complicado ter-se uma carreira na música em geral, e o Fado não é excepção. Vivemos num país limitado culturalmente no qual a valorização dos artistas é reduzida ou nula. Contudo, o Fado está na moda. Há um crescimento exponencial do número de fadistas ou de outros cantores que interpretam Fado, o que vem saturar em muito o mercado nesta área. Parece que toda a gente pode cantar Fado e em qualquer lugar se faz um evento de Fado. Para quem começa a dar os primeiros passos no Fado não é fácil, especialmente, quando não se pertence a elites, grupos ou lobbies. Por um lado é bom, pois faz-nos ser diferentes e exigentes na selecção de repertório, nos locais onde se canta e com as condições de contratação. Obviamente, há que fazer um autoinvestimento quer em formação vocal e musical, quer na investigação sobre o Fado em todos os seus momentos e, muito em especial, ouvir e aprender com o Fado das vozes consagradas. O tempo e a entrega que damos quando cantamos encarregam-se de nos tornar ou não conhecidos do público.
Quais são as suas maiores referências a nível musical?
Amália Rodrigues foi a figura determinante na minha paixão pelo Fado. Outras vozes consagradas que me inspiram: Fernanda Maria, Hermínia Silva, Tony de Matos, Carlos Ramos, Manuel de Almeida, Ricardo Ribeiro, Carminho, entre outros.
No lançamento do seu primeiro disco teve como convidados fadistas que, a meu ver e apesar da paixão e sentimento comum com que cantam o fado, acabam por ter um estilo diferente de fazê-lo, ou interpretá-lo. Porquê a escolha de cada um destes artistas?
Foi uma honra muito grande ter, num dia tão especial, as consagradas vozes do Fado de Florinda Maria e Maria da Nazaré e as extraordinárias vozes de Conceição Ribeiro e Emma, uma grande cantora japonesa, bem como a presença das jovens vozes de Maria Passarinho e Tiago Conceição. Pela sua diversidade de estilos, por eu ter um enorme carinho por todos, foi um grande orgulho contar com a presença de cada um.
Faz parte de uma nova geração de fadistas. Acredita que o fado deve ser reinventado para alcançar a nova geração ou isso seria desrespeitar este estilo musical?
O Fado está na moda, e há cada vez mais pessoas de várias idades a interessarem-se por este estilo musical tão português. Infelizmente a maior parte das sonoridades que estão a ser vendidas como Fado não o são. Não tenho nada contra às novas abordagens musicais que fundem outros estilos ao Fado. Aliás, sou bastante interessado em novas criações que se desprendam do Fado Tradicional, mas na minha opinião, deveria haver o cuidado de explicar ao público que tais criações não são Fado. Nada mais se pode fazer no fado, já tudo foi feito pelos grandes nomes do Fado começando por Amália Rodrigues, que fez tudo e inovou ainda mais. Agora pegam num fado criam-se alternativas musicais para o contexto do “world music”, até pode ser bonito mas já não é fado, mas é o que é comercial fora de Portugal. Há que reinventar sim, melhor, recuperar e retomar o respeito pelo fado. Actualmente há um grande desconhecimento por parte do público sobre o que é Fado. Culturalmente, ainda há muito trabalho para fazer nesse sentido
Explique-me a escolha do nome "Pedro Maior".
“Pedro Maior” é um dos 14 temas que compõem este álbum e, ao mesmo tempo, é uma homenagem a um dos fados tradicionais mais antigos que continua a ser um dos mais cantados, o Fado Pedro Rodrigues. Este fado tradicional é executado em modo menor e geralmente cantado em Sextilhas ou Quintilhas. A melodia de “Pedro Maior” nasce da transposição que o músico Carlos Fonseca fez do Fado Pedro Rodrigues para modo maior e conta com letra de Custódio Magalhães. Com este tema, presto homenagem ao grande Pedro Rodrigues, atribuindo o nome do tema “Pedro Maior” ao meu primeiro trabalho discográfico.
Quais foram os principais apoios que obteve para chegar ao lançamento deste trabalho discográfico?
Em primeiro lugar o acompanhamento técnico por parte de um professor de canto, de modo a tirar o melhor partido da minha voz, bem como lapidar algumas arestas. Por outro lado, um contacto privilegiado com o produtor musical ajudou-me a estudar e a repensar interpretações, assim como o próprio repertório. A minha editora, Música Unida, também acompanhou o meu projeto de raiz tendo sido uma peça ativa para a edificação deste disco.
O que aprendeu, como artista e como pessoa, desde que decidiu começar a trabalhar no disco?
Fazer este trabalho discográfico foi uma aprendizagem em diversos aspectos. Nunca tinha entrado em estúdio, o que acabou por funcionar como uma verdadeira oficina de desenvolvimento pessoal, técnico e artístico. Este trabalho permitiu-me aprender e desenvolver um espírito autocrítico, lutar pelo que gosto, ser exigente, sentir e viver o fado nas suas bases musicais, poéticas e interpretativas. Foi um trabalho que me enriqueceu muito a nível pessoal. Claro que todo isto é o início do que espero ser um percurso, um percurso de entrega, de entrega ao fado e ao público.
Se lhe pedir para mostrar-me a sua playlist, o que vou encontrar?
Ouço essencialmente música portuguesa. O Fado é sem dúvida o estilo mais presente na minha playlist.
O que sentiu no dia do lançamento do álbum, quando tudo terminou e teve finalmente tempo para fazer o balanço?
Nesse dia estava muito concentrado e focado no espetáculo. Que correu muito bem. Estava acima de tudo muito feliz. Feliz por estar a apresentar o meu trabalho na minha cidade, feliz pela Câmara Municipal de Almada ter confiado em mim e em toda a minha equipa, e muito feliz porque com casa cheia sabia que entre o público contava com família e amigos. A responsabilidade e os nervos eram enormes. Tive um feedback muito bom do público, quer durante o espectáculo, quer no final. Recebi as mais diversas manifestações de carinho de uma multidão que no fim do espectáculo esperou para me ver, felicitar, dar-me um abraço, um beijinho. Esse carinho é isso que me dá força e motivação para continuar, fazer mais e melhor.
De que forma vai agora investir na promoção deste trabalho?
A minha editora, Música Unida, é quem trata dessa tarefa.
Tem algum agradecimento especial que gostasse de fazer?
Gostaria de agradecer em primeiro lugar à minha família pelo apoio que me dão nestes primeiros passos no fado. Depois, a todos os que gostam de mim e se interessam pelo meu trabalho, aos músicos, em especial ao Carlos Fonseca. À Música Unida pelo profissionalismo e competência, pelo excelente trabalho que tem estado a fazer comigo. Aos profissionais do fado, fadistas e músicos, com quem tenho tido o privilégio de partilhar palco, pelo exemplo, fonte e inspiração no fado e com quem tenho muito para aprender.