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Se a Inês Sabe Disto

Se a Inês Sabe Disto

04 de Setembro, 2017

O que é que o Avante tem?

Patrícia Teixeira

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Porque ele participa activamente nesta festa, era óbvio para mim que fosse o Edmundo Gonçalves, também autor deste blog, a escrever sobre o tema. Para ele foi mais óbvio pedir-me que o fizesse. Porque foi a minha estréia como espectadora do Avante, porque sou imparcial quanto às motivações políticas inevitavelmente entranhadas nesta iniciativa e talvez porque a intenção seja mesmo essa...mostrar, sem filtros, que a tal "festa dos comunistas" é, afinal, a festa mais despreconceituosa e democrática a que já assisti. 

Para começar ali somos tratados por camaradas. E cada um interpreta isto da forma que bem entender. Os camaradas são os afiliados do mesmo partido político e cá na minha terra não é diferente. Mas no dicionário da Língua Portuguesa e no conceito das pessoas com quem convivo, os camaradas são também os amigalhaços, aquela "seita" do companheirismo e da amizade. E foi isso mesmo que ali senti. O Avante pode até ser a forma como o PCP vê o mundo. Mas se lá formos dar uma espreitadela, não querendo dar um ar romântico à coisa, prevalece um espírito quase enternecedor de solidariedade nacional e internacional. Aliás, justiça seja feita, esta festa não se fazia, independentemente do orçamento, sem uma componente muito importante de militância, de trabalho voluntário. 

Estão ali representados os distritos de Portugal e alguns países que todos os anos rumam à Quinta da Atalaia, na Amora (Seixal), para colaborar na festa. Há naturalmente iniciativas políticas espalhadas por todo o lado mas só lá vai quem quer. De resto, existem para mais de 80 barraquinhas, espaços de refeição e petiscos, animação, artesanato, concertos e tudo o que precisamos para sair dali de barriga e coração bem aviados. Em nenhuma outra festa, e acreditem que sou "batida" em festivais e eventos do género, tinha dado de caras com uma sintonia tão grande entre as gerações que por ali passam. Há gente com mais de 80 anos e há bebés de colo. E por falar nisso, o desporto também já é uma tradição enraizada no Avante. Este ano existiram cerca de 30 modalidades, desde as mais radicais, como a escalada, às mais tradicionais, como a malha e os matraquilhos. Para os mais pequeninos, foi criado um espaço bastante arborizado com insufláveis, pinturas faciais, yoga para crianças, jogos de água, além de música e teatro dedicado aos mais pequenos.

Não querendo alongar-me muito mais no assunto, até porque só lá estive um dia e falo-vos apenas do que vi, o que retirei do Avante é que ali não há sombra de desconforto possível por estarmos rodeados de pessoas com ideais políticos diferentes dos nossos. Devia haver, isso sim, uma abertura e humildade para reconhecer que só gente com muita convicção consegue levar avante uma festa desta dimensão. Dotada de um civismo e capacidade de organização louvável. Os comunistas trabalham ali por convicção e, até onde sei, de graça. Se no final disto tudo sobra muito dinheiro para o partido, acho lindamente, fizeram por merecê-lo! Ao longo de 41 edições , quer se queira quer não, passaram e ultrapassaram com sucesso todos os obstáculos.  Esta festa convenceu-me!  Parabéns ao Partido Comunista Português por não aproveitar o pretexto para tentar convencer nem manipular opiniões de quem não está para aí virado e parabéns aos milhares de pessoas de outras cores políticas que participaram e ajudaram a transformar mais uma edição do Avante num sucesso. É importante enxotar estereótipos e esta festa é ideal para isso. Adorei, e voltarei com toda a certeza para o ano!